Tenho uma amiga que é uma animação só. Daquelas pessoas que ainda mal olhamos para elas e já estamos com um sorriso de orelha a orelha porque a elas associamos os momentos mais bem dispostos. A C. ligou-me era tarde da noite e eu, como mocinha bem comportada que sou, já estava a dormir e não atendi. Quando falámos no dia seguinte, cobrou-me o não ter atendido e eu justifiquei-me perguntando-lhe "e aquilo lá são horas para se ligar a alguém?". Respondeu-me com um sorriso, enquanto me explicava que nunca pensa nas horas que são quando lhe apetece falar com uma pessoa. Eu fui questionando se nunca lhe tinha corrido mal, tipo, se nunca ninguém ficou aborrecido com aquilo. Que nunca se tinha apercebido de tal, e jamais entenderia se alguém se aborrecesse por ela ser assim. Fiquei em silêncio. Ela não. E continuou dizendo que, o que lhe parece é que as pessoas até ficam contentes por isso. Sorri-lhe um sorriso com vontade e concordei. Eu estou contente por ter como amiga uma pessoa assim - disse-lhe. "Vês?" - sorriu mais uma vez - "O truque é ocupares tanto espaço quanto te é possível na vida das pessoas, de forma a que, quando não estás, elas sintam muito a tua falta e fiquem a querer muito a tua companhia." Confesso que fiquei meia flabbergasted com esta teoria (ou forma de pensar), mas a seguir a C. disse com um olhar já mais tristonho: "Aprendi isto com um namorado que tive. Com ele resultou, pelo menos. Sinto falta dele até hoje e os meus dias nunca foram tão vazios."
E pronto! Tudo fez sentido, de repente, e olhei para a C., desta vez com um sorriso menos escancarado, mas muito mais terno...
2 comentários:
Quando desaparece alguém de quem gostamos das nossas vidas, às vezes, parece que ficamos com a sensação de que nos amputaram um membro ou coisa assim. Fica ali aquela coisa, aquele lugar "sem". O espaço... vazio... Também não gosto.
Se a "C" sente falta do namorado que teve, que tal um telefonema? Nunca se sabe... os dias podem ficar, se não cheios, pelo menos não tão vazios.
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