sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mais do que palavras... XXIX



"Our destiny, our nature, and our home
Is with infinitude, and only there;
With hope it is, hope that can never die,
Effort, and expectation, and desire,
And something evermore about to be.”


William Wordsworth

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

em dia de greve geral no meu país...

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só


Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão


Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado

Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música

São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só


António Ramos Rosa, Poema dum Funcionário Cansado

(e de confrontos)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

história do antes de adormecer do André, hoje

'- Sonha!!?
- Sonha, pois! Para quê essa admiração? Ele sonha com a Estrada-Larga.
- Que disparate! Se já se viu!
- Não, senhora Figueira. Nunca se viu, e para isso é que servem os sonhos. Para inventar coisas, coisas que fazem a vida bonita.'

Maria Rosa Colaço, Espanta-Pardais