segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Foi um momento...


O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?

Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bem vinda, Fadinha dos Dentes

Coloquei este mesmo sorriso num post há uns tempos atrás. Hoje, apetece-me voltar a colocá-lo aqui. A razão continua a ser o sorriso, mas, desta vez, é porque este sorriso que ilustra o texto, exactamente assim como é,  começou hoje a dar sinais de que não voltará a sê-lo. Não quero com isto dizer que algo menos positivo aconteceu e que este sorriso lindo se inibiu de brilhar. Não. Há-de continuar a brilhar e sempre com muita intensidade. Terá apenas uma aparência diferente. 
É curiosos que a partir de uma certa altura da nossa vida sempre que falamos sobre a passagem do tempo, salientamos em nós aspectos que consideramos menos positivos e fazêmo-lo, até, de forma muito pouco efusiva... E falamos nas rugas.  E falamos dos cabelos brancos. Ou na ausência de cabelo. E falamos na falta de memória. E nunca nos ocorre com a mesma rapidez de raciocínio que há formas tão mais encantadoras de tomarmos consciência de que o tempo passa! O tempo também traz na sua passagem marcas que nos enchem o peito, como os sinais de crescimento dos nossos filhos. Entre a primeira vez que aqui coloquei este sorriso e agora, passaram dois anos e três meses. Este sorriso do meu filho não voltará a ser assim, simplesmente porque o primeiro dentito lhe caiu hoje. Sinal do tempo. Muito bom sinal!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"A Minha Agenda" da Caderneta de Cromos

Este Natal alguém me deu de presente "A Minha Agenda" da Caderneta de Cromos do Markl. Confesso que achei um piadão! Também ganhei o livro, mas como gosto mesmo muito de agendas (acho que ainda nunca tinha dito isto aqui =))), estou a afeiçoar-me mais à agenda. Para além do objectivo prático, funcional da coisa, (sim, e eu também já sei que estamos numa era tecnológica e que já ninguém usa agendas em papel), o que dá sempre muito jeito, a agenda traz algumas curiosidades que tiveram lugar nos anos 70 e 80 e traz notas, pensamentos, constatações do universo do próprio Markl por essa altura.
Ora bem, nem sequer é o facto de ter sido 'o' Markl a redigir estes apontamentos o que me despertou o interesse. É mesmo só por serem pensamentos - arriscaria dizer - típicos de meninos na adolescência e pré-adolescência. De facto, e embora a minha vida, de alguma forma, esteja muito relacionada com o universo adolescente, tenho tido algumas revelações no que diz respeito a este mesmo universo nos anos 80.
Imagine-se que os meninos faziam listas de meninas nas quais agrupavam nomes daquelas que eram "para casar" e "para coiso", (palavras do Markl). Já agora, os primeiros nomes que figuravam na lista do autor eram a Kim Wilde "para casar" e a Samantha Fox para "o resto". Surprise, surprise! Não sei de diga coitada da Sammy Fox ou coitada da Kim Wilde. Mas tendo em conta que, na agenda, consta uma citação da primeira que diz " Tenho dez pares de sapatilhas, um para cada dia da semana.", acho que é difícil não saber de quem tenho pena (digo eu, vá).
Depois, tinham cassetes com listas de musicas classificadas como "musicas para abanar o capacete" e "musicas para pensar em coiso".
Curioso, também, fazerem listas com nomes de meninas para quem enviariam cartões no Dia dos Namorados. Ou seja, fica-se com a ideia de que não havia uma menina em especial a quem desejariam mesmo enviar um cartão. O que vem à rede é peixe parece fazer muito sentido neste caso.
Moral da história, não sei se gostei de saber desta constante das listas para tudo no universo dos meninos adolescentes dos anos 80...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Qual foi a última vez que alguém vos desafiou a fazer uma loucura?

Passamos a vida a querer que esta seja loucamente saudável e que funcione como deve ser. Temos as nossas pequenas loucuras quando andamos na escola. Fazemos asneiras a ver até pisar o risco. Na puberdade achamos que temos o mundo aos pés e mesmo sem fazer nada de especial sentimo-nos especiais. A não ser que já se tenha decidido dentro do ventre materno ter uma espécie de complexo que nos impede de achar que o mundo é nosso (como um grande autor já referiu). Depois namoramos, casamos e temos filhos, não necessariamente por esta ordem. Há aqueles que fazem tudo como manda a etiqueta e acabam acomodados a uma vida planeada à medida. Outros há, porém, que não se acomodam mesmo quando se casam e que sabem o valor da loucura saudável. 
Foi o que me aconteceu este fim-de-semana. Alguém disse: - venham e eu disse: - “bora” e lá fomos. Fizemos 1200km, conhecemos pessoas espectaculares e voltamos a tempo de continuar a vida nos moldes normais. Uma pequena loucura que durou 24h. Nada planeado. Uma verdadeira alucinação. A vida deveria ser assim, vivida com muitas emoções de liberdade sem pensar nos “e se”. Deveríamos fazer unicamente o que a nossa loucura saudável dita.



Celeste Silva