sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Se calhar, as pessoas deviam andar todas com bolas de cristal


A propósito de um post que um amigo publicou no seu blogue, a indignação e a revolta que nasceram em mim foram tão maiores que não caberia tudo o que me apetece dizer em apenas um comentário ao dito post. E talvez por isso, surja este.
Quanto a mim, os tais "cobardes FDP que nunca têm vergonha" deveriam, sem qualquer sombra de duvida, ser denunciados e, obviamente, condenados de forma "séria" e eficaz para que nunca mais pudessem repetir o crime. Agora, gostaria também de partilhar convosco o complicado que é esta questão da denúncia de um "cobarde FDP que nunca tem vergonha", pois veio-me à lembrança que foi um assunto bastante trabalhado em contexto laboral, que teve direito à presença de alguns membros da APAV, cujo objectivo era esclarecer determinadas questões de natureza similar a esta. O que foi feito perante uma audiência que metia respeito, tendo em conta o grande numero de participantes e só por isso.
Este acontecimento no meu local de trabalho, teve lugar, justamente, porque tivemos conhecimento (de forma indirecta, claro, estas coisas nunca são ditas directamente), de alguns casos que poderiam estar a ser vividos naquela população.
Lembro-me que os oradores falaram um pouco sobre a Associação (objectivos, auxilios prestados, possíveis apoios...), enfim, contextualizaram a intervenção, deram indicações e forneceram as informações necessárias para o caso de.
Seguidamente, foi solicitado à audiência que colocassem questões, caso o desejassem. Era o lugar e (se calhar), a altura certa.
Ora bem, depois de muitas perguntas, o grosso que ficou das respostas dos senhores da APAV foi:
- para haver denuncia tem que haver provas e as provas são (no caso da denúncia ser da própria vítima), muitas vezes, as marcas no próprio corpo;
- no momento seguinte ao da denúncia, o mais provável é que as vítimas tenham de voltar para casa e sujeitarem-se ao que vier depois, ninguém lhes garante um lugar para se protegerem (nem aos filhos, caso os tenham);
- convém que as vítimas saibam que, se forem elas a abandonar o "lar", podem perder alguns direitos no que concerne aos "bens" e aos filhos (?!).
Já quase no final do "esclarecimento", ouviu-se uma voz perguntar: "então, se se pensar nisso tudo antes, o que é que as pessoas "devem" fazer para que a violência não volte a acontecer?".
E de lá da frente veio uma voz com a intervenção mais infeliz que alguém poderia ter tido em contexto similar (ou em qualquer outro, às tantas): "se calhar, o melhor mesmo, é ter algum cuidado ao escolher os parceiros com quem vão ter uma vida em comum".
Acreditem, se quiserem.

2 comentários:

Helena disse...

Devias ler o ultimo romance da Rosa Lobato Faria-Vento Suão!Retrata muito bem o que aqui expões. Bj

memyselfandi disse...

Vou ler sem falta, Helena. Ainda por cima, adoro ler a Rosa =) obrigada pela dica! ;)