Um destes dias precisei de resolver e esclarecer uns assuntos relacionados com a escola do meu filho e dirigi-me à Secção de Educação da Câmara Municipal da minha área de residência. Era manhã e cheguei cedo. Ainda assim não fui a primeira, já estava a ser atendida uma senhora. Aguardei e, enquanto aguardava, consegui ouvir claramente o diálogo que a funcionária e a senhora travavam. Falavam em dinheiro. Percebi que a senhora queria saber qual a soma que tinha que pagar pelas refeições que o filho fazia na escola. A funcionária disse-lhe o valor. A senhora mudou de cor e olhou para o chão. Senti-me embaraçada e olhei para o chão, também. A funcionária acrescentou "Pois, é que a senhora deixou juntar muitos meses. E é melhor pagar ou cortam-lhe as refeições." A senhora balbuciou qualquer coisa e com ar de quem carregava o peso do mundo nos ombros, agradeceu o esclarecimento e saiu. Fiquei com um nó no estômago e o meu coração ficou tão apertadito! Foi a minha vez de ser atendida e mais pessoas entraram, entretanto. Preparava-me para sair quando a tal senhora volta a entrar na sala. Olhou para a funcionária e fez-lhe um sinal, mostrando que trazia dinheiro na mão para pagar. "Ai sempre vai pagar?", perguntou a outra quase a gritar, "agora vai ter que esperar para o fim!" Voltou a olhar para o chão sentindo os olhares cravados nela e, sentindo-se embaraçada, encolheu-se num cantinho discreto.
Ao sair, fiz uma festinha na cabeça do pequenino que trazia pela mão e sorri-lhe.
O nó demorou tanto a desaparecer. O coração continua apertado até agora.
10 comentários:
É doloroso miga...quando a crise sai da tv para nos passar à frente ou nos tocar mesmo, aí o nosso coração aperta muito...
Bjs
Se aperta, João. Verificar que coisas destas acontecem mesmo ao nosso lado e que há crianças envolvidas, a sofrer com isto tudo, não há como não sentir um aperto no coração, de facto. Jt, migo. Bigada por mais uma visita!
É muito triste a existência de tal realidade. Muito triste mesmo, embora a um nível diferente, é o desempenho dos "funcionários" que tanto se empenham em julgar publicamente terceiros, quando eles próprios deviam, se calhar, serem julgados.
FLR, eles deviam, principalmente, não se achar no direito de julgar ninguém e, acima de tudo, trabalhar com as pessoas no sentido de arranjar soluções. As suas energias deviam ser concentradas apenas nesta ultima parte...
Agora imagina estar do lado em que diariamente se vive essa realidade...colocarmo-nos no lugar do outro é tão difícil!!! Ficaste mais rica em experiência pessoal apesar do coração apertado :)
Helena, não devia ser assim tão difícil. Somos todos seres humanos e vivemos a mesma realidade. O Amanhã é para todos e nunca se sabe...
E haveria tanto para dizer... Obrigada pela tua partilha de experiências, acho que nos faz pensar um pouco mais a todos.
Valter, fico mesmo contente que assim seja. Obrigada, também!
A dita crise financeira está mais do que debatida...pena que a crise de valores insista em permanecer!!!!!!!!
Carla, nem mais!
Beijos =)
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