domingo, 6 de dezembro de 2009

Mais do que palavras... XI

Ser real quer dizer não estar dentro de mim



Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade

Se é mais certo eu sentir
Do que existir a cousa que sinto —
Para que sinto
E para que surge essa cousa independentemente de mim
Sem precisar de mim para existir,
E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível?
Para que me movo com os outros
Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos
Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo?
Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente.
E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas.
Cousa por cousa, o Mundo é mais certo.

Mas por que me interrogo, senão porque estou doente?
Nos dias certos; nos dias exteriores da minha vida,
Nos meus dias de perfeita lucidez natural,
Sinto sem sentir que sinto,
Vejo sem saber que vejo,
E nunca o Universo é tão real como então,
Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim.
Mas) tão sublimemente não-meu.

Alberto Caeiro

4 comentários:

NUXA disse...

Andas a analisar muito as coisas... ;)

memyselfandi disse...

Por acaso.. :)

FLR disse...

Muito filosófico, "por acaso"... Será por acaso? ;?

memyselfandi disse...

FLR, e há alguma coisa por acaso?