'Amanheci um dia destes antes da própria manhã. Quando isso acontece sei que não consigo voltar a anoitecer, pelo que costumo aquecer um copo de leite no microondas e bebê-lo devagar à janela da cozinha enquanto furo a negritude da noite com os meus olhos afiados. Já sei que lá fora alguns candeeiros públicos iluminam as ruas despovoadas e que o vento brinca com o lixo que se vai acumulando na curva da estrada. E é assim que tento descobrir o porquê da minha manhã serôdia.
Desta vez acrescentei um shot de uísque ao leite e uma música ao silêncio, como se já soubesse que tinha sido a saudade a despir-me os lençóis e acordar-me extemporaneamente. Ela e o facto de ter adormecido sem lhe enviar uma mensagem a dizer-lhe que gosto dela. São repetitivas, essas mensagens, mas por isso é que são importantes. É como se a repetição se renovasse de cada vez que nasce o dia. É por isso que quando as envio a meio da noite fico à espera que amanheça, que é como quem diz, à espera que ela acorde.'
Bagaço Amarelo
“A espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias” – Alberto Caeiro
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Mais do que palavras... XXIII
Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
domingo, 27 de novembro de 2011
"Itsy Bitsy Spider"...
"The itsy bitsy spider climbed up the water spout
Down came the rain and washed the spider out
Out came the sun and dried up all the rain
And the itsy bitsy spider climbed up the spout
again"
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
diário - 11/11/25
"É o Ciclo sem fim
Que nos guiará
Com dor e emoção
Pela fé e o amor
Até encontrar o nosso caminho
Nesse ciclo
Nesse ciclo sem fim"
Caminhamos ao rumo do sol
Há mais coisas para ver, mais que a imaginação
Muito mais pro tempo permitir
E são tantos caminhos pra se seguir
E lugares pra se descobrir
O sol a girar sob o azul desse céu
Nos mantém, esse rio a fluir
É o Ciclo sem fim
Que nos guiará
Com dor e emoção
Pela fé e o amor
Até encontrar o nosso caminho
Nesse ciclo
Nesse ciclo sem fim
É o ciclo sem fim
Que nos guiará
Com dor e emoção
Pela fé e o amor
Até encontrar o nosso caminho
Nesse ciclo
Nesse ciclo sem fim
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Um serão com Manuel Freire
Quando penso Manuel Freire, penso António Gedeão, e penso Pedra Filosofal. Não sei se com os outros também acontece, mas deve ser uma linha de pensamento comum a muita gente. E foi esta Pedra Filosofal que ouvi vezes sem conta e que continua a provocar-me um arrepio sempre que a oiço, que me fez querer ouvi-la ao vivo. Finalmente.
Manuel Freire apresentou-se ao publico num auditório acolhedor aqui bem perto de mim, e foi um serão riquíssimo aos mais variados níveis, onde se disse poesia e onde se cantou poesia. Onde nomes como José Gomes Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Olímpio, Sidónio Muralha e José Saramago, Luís Cília, Natália Correia, José Carlos Ary dos Santos, para além de António Gedeão, foram mencionados e, através das suas obras, ilustrados.
Para além de tudo isto, contaram-se histórias na primeira pessoa, histórias que só alguém com o carisma deste senhor poderia contar. Reviveu-se o momento em que Manuel Freire foi à televisão, mais propriamente ao programa Zip-Zip, em 1969, para cantar Pedra Filosofal, o tal poema de António Gedeão.
Não só me arrepiei quando ouvi a interpretação da Pedra Filosofal naquela voz, ali, bem perto de mim, como senti uma lágrimazita surgir no canto do olho...
Indubitavelmente, o Sonho continuará a comandar a vida, mas foi mais do que esta Pedra Filosofal o que trouxemos para casa depois de tão agradável serão. A mim, ficou-me este poema (também de Gedeão) que, confesso, antes da interpretação desta noite, nunca me tinha seduzido especialmente, e que foi um dos momentos altos da noite. Ficou cá dentro.
Ei-lo!
"Este é o poema do amor.
Do amor tal qual se fala, do amor sem mestre.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
Este é o poema do amor.
Do amor das fachadas dos prédios e dos recipientes do lixo.
Do amor das galinhas, dos gatos e dos cães, e de toda a espécie de bicho.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
Este é o poema do amor.
Do amor das soleiras das portas
e das varandas que estão por cima dos números das portas
com begónias e avencas plantadas em tachos e terrinas.
Do amor das janelas sem cortinas
ou de cortinas sujas e tortas.
Este é o poema do amor.
Do amor das pedras brancas do passeio
com pedrinhas pretas a enfeitá-lo para os olhos se entreterem,
e as ervas teimosas a nascerem de permeio
e os homens de cócoras a raparem-nas e elas por outro lado a crescerem.
Do amor das cadeiras cá fora em redor das mesas
com chávenas de café em cima e o toldo de riscas encarnadas.
Do amor das lojas abertas, com muitos fregueses e freguesas
a entrarem e a saírem, e as pessoas todas muito malcriadas.
Este é o poema do amor.
Do amor do sol e do luar,
do frio e do calor,
das árvores e do mar,
da brisa e da tormenta,
da chuva violenta,
da luz e da cor.
Do amor do ar que circula
e varre os caminhos
e faz remoinhos
e bate no rosto e fere e estimula.
Do amor de ser distraído e pisar as pessoas graves,
do amor de amar sem lei nem compromisso,
do amor de olhar de lado como fazem as aves,
do amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso.
Do amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,
que salta, que voa, que vibra e lateja.
Das fitas ao vento,
dos barcos pintados,
das frutas, dos cromos, das caixas de tintas, dos supermercados.
Este é o poema do amor.
O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
amor,
amor,
amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.
Este é o poema do amor."
Manuel Freire apresentou-se ao publico num auditório acolhedor aqui bem perto de mim, e foi um serão riquíssimo aos mais variados níveis, onde se disse poesia e onde se cantou poesia. Onde nomes como José Gomes Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Olímpio, Sidónio Muralha e José Saramago, Luís Cília, Natália Correia, José Carlos Ary dos Santos, para além de António Gedeão, foram mencionados e, através das suas obras, ilustrados.
Para além de tudo isto, contaram-se histórias na primeira pessoa, histórias que só alguém com o carisma deste senhor poderia contar. Reviveu-se o momento em que Manuel Freire foi à televisão, mais propriamente ao programa Zip-Zip, em 1969, para cantar Pedra Filosofal, o tal poema de António Gedeão.
Não só me arrepiei quando ouvi a interpretação da Pedra Filosofal naquela voz, ali, bem perto de mim, como senti uma lágrimazita surgir no canto do olho...
Indubitavelmente, o Sonho continuará a comandar a vida, mas foi mais do que esta Pedra Filosofal o que trouxemos para casa depois de tão agradável serão. A mim, ficou-me este poema (também de Gedeão) que, confesso, antes da interpretação desta noite, nunca me tinha seduzido especialmente, e que foi um dos momentos altos da noite. Ficou cá dentro.
Ei-lo!
"Este é o poema do amor.
Do amor tal qual se fala, do amor sem mestre.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
Este é o poema do amor.
Do amor das fachadas dos prédios e dos recipientes do lixo.
Do amor das galinhas, dos gatos e dos cães, e de toda a espécie de bicho.
Do amor.
Do amor.
Do amor.
Este é o poema do amor.
Do amor das soleiras das portas
e das varandas que estão por cima dos números das portas
com begónias e avencas plantadas em tachos e terrinas.
Do amor das janelas sem cortinas
ou de cortinas sujas e tortas.
Este é o poema do amor.
Do amor das pedras brancas do passeio
com pedrinhas pretas a enfeitá-lo para os olhos se entreterem,
e as ervas teimosas a nascerem de permeio
e os homens de cócoras a raparem-nas e elas por outro lado a crescerem.
Do amor das cadeiras cá fora em redor das mesas
com chávenas de café em cima e o toldo de riscas encarnadas.
Do amor das lojas abertas, com muitos fregueses e freguesas
a entrarem e a saírem, e as pessoas todas muito malcriadas.
Este é o poema do amor.
Do amor do sol e do luar,
do frio e do calor,
das árvores e do mar,
da brisa e da tormenta,
da chuva violenta,
da luz e da cor.
Do amor do ar que circula
e varre os caminhos
e faz remoinhos
e bate no rosto e fere e estimula.
Do amor de ser distraído e pisar as pessoas graves,
do amor de amar sem lei nem compromisso,
do amor de olhar de lado como fazem as aves,
do amor de ir, e voltar, e tornar a ir, e ninguém ter nada com isso.
Do amor de tudo quanto é livre, de tudo quanto mexe e esbraceja,
que salta, que voa, que vibra e lateja.
Das fitas ao vento,
dos barcos pintados,
das frutas, dos cromos, das caixas de tintas, dos supermercados.
Este é o poema do amor.
O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
amor,
amor,
amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.
Este é o poema do amor."
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Concerto dos Cure por Thomas Lasham
O Thomas é um estreante n'O Quinto Andar. Quando soube que ele ia ao Royal Albert Hall a Londres, para assistir ao concerto dos Cure no dia 15 deste mês, pedi-lhe que depois partilhasse comigo as suas impressões sobre o concerto e (já assim para o abusadinha) pedi-lhe que partilhasse umas fotografias, também. O que o Thomas partilhou foi tão sentido e rico que lhe pedi se podia publicar aqui no blogue.
A mãe do Thomas é portuguesa, mas o pai é inglês (nada mais natural, afinal, estamos no Algarve, verdade?), o que faz dele bilingue. However, ele sente-se mais confortável com o inglês, e foi essa a língua que escolheu para escrever. Espero que apreciem o seu entusiamo tanto quanto eu.
"hey Helena the concert was mind blowing I’m still suffering a cure concussion but slowly the beautiful memories are coming back. I was seated in the second row of the circle at block R when Robert Smith walked on stage, from then on i was hypnotised and the 3 hour plus show felt like only 30 minutes. So i screamed danced and i have to admit also cried during the songs “In your house”, the Funeral Party and the Drowning man. I am 22 years old have been a dedicated cure fan for 8 years and never had the chance to see them before so seeing them play their first 3 albums and perform an amazing 14 song encore which included boys don’t cry, charlotte sometimes and a few very obscure B sides was definitely one of the most emotional and greatest experiences of my life."
SETLIST
The Cure “REFLECTIONS”
A mãe do Thomas é portuguesa, mas o pai é inglês (nada mais natural, afinal, estamos no Algarve, verdade?), o que faz dele bilingue. However, ele sente-se mais confortável com o inglês, e foi essa a língua que escolheu para escrever. Espero que apreciem o seu entusiamo tanto quanto eu.
"hey Helena the concert was mind blowing I’m still suffering a cure concussion but slowly the beautiful memories are coming back. I was seated in the second row of the circle at block R when Robert Smith walked on stage, from then on i was hypnotised and the 3 hour plus show felt like only 30 minutes. So i screamed danced and i have to admit also cried during the songs “In your house”, the Funeral Party and the Drowning man. I am 22 years old have been a dedicated cure fan for 8 years and never had the chance to see them before so seeing them play their first 3 albums and perform an amazing 14 song encore which included boys don’t cry, charlotte sometimes and a few very obscure B sides was definitely one of the most emotional and greatest experiences of my life."
SETLIST
The Cure “REFLECTIONS”
1. 10:15 Saturday Night
2. Accuracy
3. Grinding Halt
4. Another Day
5. Object
6. Subway Song
7. Foxy Lady
8. Meathook
9. So What
10. Fire In Cairo
11. It's Not You
12. Three Imaginary Boys
13. The Weedy Burton
14. Seventeen Seconds
15. A Reflection
16. Play For Today
17. Secrets
18. In Your House
19. Three
20. The Final Sound
21. A Forest
22. M
23. At Night
24. Seventeen Seconds
25. Faith
26. The Holy Hour
27. Primary
28. Other Voices
29. All Cats Are Grey
30. The Funeral Party31. Doubt
32. The Drowning Man
33. Faith
ENCORE
1. World War
2. I'm Cold
3. Plastic Passion
4. Boys Don't Cry
5. Killing An Arab
6. Jumping Someone Else's Train
7. Another Journey By Train
ENCORE
1. Descent
2. Splintered In Her Head
3. Charlotte Sometimes
4. The Hanging Garden
ENCORE
1. Let's Go To Bed
2. The Walk
3. The Lovecats
Obrigada, Thomas!
2. Accuracy
3. Grinding Halt
4. Another Day
5. Object
6. Subway Song
7. Foxy Lady
8. Meathook
9. So What
10. Fire In Cairo
11. It's Not You
12. Three Imaginary Boys
13. The Weedy Burton
14. Seventeen Seconds
15. A Reflection
16. Play For Today
17. Secrets
18. In Your House
19. Three
20. The Final Sound
21. A Forest
22. M
23. At Night
24. Seventeen Seconds
25. Faith
26. The Holy Hour
27. Primary
28. Other Voices
29. All Cats Are Grey
30. The Funeral Party31. Doubt
32. The Drowning Man
33. Faith
ENCORE
1. World War
2. I'm Cold
3. Plastic Passion
4. Boys Don't Cry
5. Killing An Arab
6. Jumping Someone Else's Train
7. Another Journey By Train
ENCORE
1. Descent
2. Splintered In Her Head
3. Charlotte Sometimes
4. The Hanging Garden
ENCORE
1. Let's Go To Bed
2. The Walk
3. The Lovecats
Obrigada, Thomas!
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Concerto dos Scorpions por Zaira Wardrope
Em finais dos anos 80, recebi, como prenda de anos, um LP de uma banda alemã, que eu nunca tinha ouvido falar e pensei: alemães a cantar em inglês? Deve ser anedota..... mas a ultima faixa do LP (“Love at First Sting”) deixou-me espantada, porque era uma balada muito, muito boa, “I’m still loving you”. Tinha uma ou outra musica boa, “Rock you like a Hurricane” e “Big City Nights”, mas não, esta banda de “heavy metal” não me surpreendeu e fiquei-me por ali no que diz respeito aos Scorpions.
Em finais de 1990 os Scorpions passam por mim novamente... uma amiga com quem eu partilhava o transporte para o trabalho tinha comprado o “Crazy World” e durante uma semana inteira foi a musica que ouvi. Mas desta vez não me fartei deles, “Wind of Change” e “Send me an Angel” são as que me ficaram na memória... A “Wind of Change” teve um significado especial porque estávamos ainda a celebrar a queda do Muro de Berlim no ano anterior.
Quase que os fui ver ao Convento do Beato em 2001 (não me lembro porque não fui), mas assim que saiu o CD “Acoustica”, gravado nesse concerto, comprei-o logo. E ainda hoje o ouço no carro. Me perdoem os fãs de Freddy Mercury (eu incluída) mas o cover de Klaus Meine do “Love of my Life” neste concerto é de arrepiar!!!
Na passada 6ª feira, 11-11-11, tive o privilégio de os ver ao vivo no Pavilhão Atlântico, naquela que eles dizem ser a última tour antes da reforma, a “Get Your Sting and Blackout Tour”... e mesmo estando o som longe de ser perfeito, foi uma experiência única. Nunca tinha visto o Pavilhão tão cheio, a abarrotar... Lembrem-se que este grupo de 5 elementos, fundado em 1965 por Rudolf Schenker (um maluco na guitarra) anda nisto há 45 anos com 18 albuns de inéditos e 21 tours, mantendo-se desde mais ou menos o início, o Rudolf, o James Kottak (na bateria) e o Klaus vocalista (mas que voz ainda...). Admito que levaram um bocado para mobilizar o publico. Começaram com umas rockadas do ultimo album “Sting in The Tail” e o pessoal, a maior parte quarentão, não estava muito para aí virado. Mas quando cantaram “Loving You Sunday Morning” conseguiram a atenção total. O momento do “Send me an Angel” foi mágico.
Foi um concerto de 2 horas. Eu estava a ficar desiludida porque acabavam o concerto sem eu ouvir as minhas favoritas, mas deixaram essas para o encore: “Still Loving You” (com os telemóveis a substituir os isqueiros), “Wind of Change, “Rock you Like a Hurricane”, e “When the Smoke is Going Down” do album “Blackout” de 1982, foram uma delícia (senti falta do "You and I", confesso), e aqui sim pude dizer: acabaram em grande estilo.
domingo, 13 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
And slowly, you come to realize...
It's all as it should be You can only do so much If you're game enough You could place your trust in me For the love of life There's a trade off We could lose it all But we'll go down fighting And what of the children? Surely they can't be blamed for our mistakes? And slowly I've come to realize It's all as it should be That hiding space A lonely place How can the right thing be so wrong? I've found mistakes Where they don't belong For the love of life We'll defeat this They may tear us down But we'll go down fighting Won't we?
David Sylvian
domingo, 6 de novembro de 2011
"Ditto!"
Ele saiu e eu fiquei sem chão, no meu chão, mais uma vez.
Cuidei então do chão que fica sempre, no qual ele está em cada cantinho...
Cuidar do nosso chão quando não está faz-me sentir melhor. Em cada cantinho que toco, especialmente naqueles onde ele gosta mais de estar, capricho sempre um bocadinho. Quando volta e vê alguma novidade repara e sorri. Mexe e pergunta: "foste tu que fizeste?".
Cuidar do nosso chão quando não está faz-me sentir melhor. Ele sabe disso. Tanto sabe que, pelo que vi, antes de sair, andou numa intensa labuta para me preparar uma das mais bonitas surpresas que já recebi. Nos tais cantinhos onde sabia que eu iria mexer ao arrumar a casa, colocou pedacinhos de papel com mensagens escritas. Com aquela letrinha tão dele. Tão só minha.
Esta que vos mostro não estava escondida num cantinho, mas foi a última que encontrei. Só a vi quando ia sair de casa. Estava colada na fechadura da porta.
Se há coisas que não se agradecem, esta é seguramente uma delas. Não há como, simplesmente. Mas às vezes a vida merece. Obrigada!
Cuidei então do chão que fica sempre, no qual ele está em cada cantinho...
Cuidar do nosso chão quando não está faz-me sentir melhor. Em cada cantinho que toco, especialmente naqueles onde ele gosta mais de estar, capricho sempre um bocadinho. Quando volta e vê alguma novidade repara e sorri. Mexe e pergunta: "foste tu que fizeste?".
Cuidar do nosso chão quando não está faz-me sentir melhor. Ele sabe disso. Tanto sabe que, pelo que vi, antes de sair, andou numa intensa labuta para me preparar uma das mais bonitas surpresas que já recebi. Nos tais cantinhos onde sabia que eu iria mexer ao arrumar a casa, colocou pedacinhos de papel com mensagens escritas. Com aquela letrinha tão dele. Tão só minha.
Esta que vos mostro não estava escondida num cantinho, mas foi a última que encontrei. Só a vi quando ia sair de casa. Estava colada na fechadura da porta.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Yes, we do!
Escrevi este texto há algum tempo e chamei-lhe "Home, Sweet Home". Hoje, apeteceu-me voltar a ele.
Um casal de amigos dos tempos da universidade convidou-me para jantar com eles há uns tempos atrás. Formam um casal interessante e sempre gostei bastante das nossas longas conversas pela noite fora, sobre os mais variados assuntos. Partilham a vida há alguns anos, já, e não foi a primeira vez que passei lá pelo "ninho". Entrar lá é muito agradável. É um lugar que revela bom gosto, onde pormenores foram tidos em conta. Passa por um sofá vermelho ao lado de um tapete que dá pena pisar. O tecto tem encaixadas pequenas lâmpadas por ele distribuídas de igual forma. São daquelas cuja intensidade pode ser regulada. Nunca a sua luminosidade está muito intensa. Tudo está muito certinho, sempre. Nada fora do lugar. Do mais "fashion! Contudo, sempre que saio de lá trago comigo uma sensação meio esquisita... é como se estar lá me fizesse ficar com saudades da minha casa. Estranho, pensei eu, pois quando entro em minha casa vejo sempre algo fora do lugar. Na minha casa há "cenas" coladas na porta do frigorífico, listas de coisas para fazer, fotos, contas, desenhos do meu filho, eu sei lá! Na minha casa, há brinquedos na banheira. Na minha casa, há casacos no bengaleiro. Há uma mantinha no sofá.
Quando regressei da casa dos meus amigos e entrei na minha casa percebi o que tinha sentido. A minha casa é um lar. Nela vivem pessoas. Ela é visitada por pessoas que se sentem em casa quando lá estão. A minha casa tem a minha alma. Tem vida. A minha casa não é uma montra e é, mesmo assim, a mais linda de todas.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Mais do que palavras... XXII
Ah! Se acontecesse enfim qualquer coisa!
Se de repente saísse da terra um braço
e atirasse uma rosa
para o espaço!
Mas não.
Lá está o sol do costume
com a exactidão
duma bola de lume
desenhada a compasso...
...sol que à noite continua
a andar em redor
nas entranhas da lua
- que é sol com bolor...
e desde que nasci,
haja paz ou guerra,
nunca vi outra coisa.
Ah! Como queres que acredite em ti
- braço que hás-de romper a terra
e atirar uma rosa?
José Gomes Ferreira
Se de repente saísse da terra um braço
e atirasse uma rosa
para o espaço!
Mas não.
Lá está o sol do costume
com a exactidão
duma bola de lume
desenhada a compasso...
...sol que à noite continua
a andar em redor
nas entranhas da lua
- que é sol com bolor...
e desde que nasci,
haja paz ou guerra,
nunca vi outra coisa.
Ah! Como queres que acredite em ti
- braço que hás-de romper a terra
e atirar uma rosa?
José Gomes Ferreira
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