O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?
Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...
Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida...
Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.
Fernando Pessoa
4 comentários:
"Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz."
Lindo!
Tão bom este momento de poesia assim a meio do dia... momentos...
Já agora:
"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."
David Mourão-Ferreira.
Apeteceu-me este, não sei porquê =)
Obrigada!
FLR, a mim também me tocou de uma forma especial quando o li =) muito bom, sim.
Ainda bem que te apeteceu, é outro dos meus favoritos!
Obrigada também pela tua partilha =)
"...numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida"
E de tantas coisas incompreendidas é feita a estrada da vida =)
É muitas vezes de lamentar tanta incompreensão, mas faz parte.
Muito agradável!
Valter, ainda bem que gostou =)
Concordo! É, sim, e é de lamentar.
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