terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Voltar à Terra

Moro longe da minha terra natal. Morar-se longe da terra natal nem sempre é um processo fácil. Dependendo de cada um de nós e do factor ou factores que contribuíram para tal, muito provavelmente, o afastamento terá trazido momentos de grande tristeza e dor, principalmente naqueles primeiros tempos que se seguem à mudança. Com o tempo, acabamos por nos adaptar e mais tarde, muitos de nós, já nem conseguem conceber a ideia de voltar a viver na terra que nos viu nascer.
Sair do ninho, não sendo fácil, é um período de enorme crescimento e enriquecimento pessoal. Se for como no meu caso, o ir para a universidade, seremos de alguma forma obrigados a aprender a dividir o nosso espaço e as nossas coisas com estranhos. Estranhos estes que passam a fazer parte do nosso íntimo e tornam-se o mais próximo que temos de família. Uma nova família.
Com o tempo, descobrimos que precisamos uns dos outros. Estamos longe de casa. Longe de tudo o que é “nós” e precisamos de nos apoiar uns nos outros. Tornamo-nos dependentes afectivamente destas novas pessoas, deste novo lar, desta nova noção de família. As partilhas nesta família são diferentes, mas muito interessantes, fascinantes até, em alguns aspectos. Moldamo-nos. Crescemos. Aprendemos a viver uma nova ideia de vida.
Houve alturas em que pensei muitas vezes que as pessoas que não têm que sair do meio em que cresceram e ao qual pertencem, por todas as razões, eram umas sortudas. Nunca passaram pela dor da separação. Nunca sentiram o coração apertadito nem lhes brotou do olhar uma lágrima de saudade. Neste momento, não penso da mesma forma. A dor da separação não a terão sentido, mas a alegria de conhecer novos universos humanos, de contar e ouvir experiências, de saberem que existe outra forma de mundo para além daquela que os moldou, será algo que nunca conhecerão. Nunca experimentaram outro molde.
Tudo nesta vida é relativo, as coisas só têm a importância que lhes damos, é um facto. Mas também é um facto que, com esse tipo de raciocínio, poderíamos optar por não dar importância a nada e que espécie de vida teríamos nas mãos, então?
Seja como for, o regresso à terra é sempre uma grande alegria. O tempo para colocarmos as conversas em dia com os amigos de infância e família nunca chega, são já muitos meses, muitos anos de distância. Nunca a troca de mimos será suficiente para colmatar tanta ausência. Enquanto estamos, os dias enchem-nos e esvaziam-nos, mas completam-nos tanto!
Quanto às partidas, bem, cada uma delas, todas, vão acrescentando um bocadinho escuro ao coração, que se junta aos outros que já lá estão, tornando o pedacito escuro cada vez maior. O pedacito escuro só aparece nas partidas. A cada regresso, o coração esquece-se dele, mas ele volta a lembrá-lo sempre que está lá.

5 comentários:

Celeste disse...

Mais uma vez concordo contigo. Sair de casa é um "mal" necessário! Se estivermos agarrados aos moldes não evoluímos. As experiências e os contactos com moldes diferentes fazem de nós seres humanos mais tolerantes.

memyselfandi disse...

Celeste, é exactamente isso! Os moldes diferentes dão-nos uma perspectiva de vida completamente diferente daqueles que sempre viveram num único molde =)mais tolerantes, compreensivos e assertivos, sem dúvida! =)
Jt.

Pedro disse...

Mal de mim se não tivesse saído da minha santa terrinha!
Hoje em dia não consigo passar lá muito tempo, já não me identifico com a terra que me viu crescer, nem com a ideologia de quem lá vive, e, as pessoas de quem tenho saudades de outros tempos também já lá não estão!
Resta a família chegada que ainda me faz lá ir!

Zaira Wardrope disse...

A terrinha que me viu nascer não me diz absolutamente nada porque saí de lá com menos de 2 anos. Considero Setúbal a minha terra porque foi lá que cresci, estudei (universidade em Lisboa que é já ali...)e trabalhei. Mas deixei a "minha" terra em 1990 para ir para muito longe, assim lá para o estrangeiro de além-mar a 9hrs de avião de tudo quanto me era familiar e isso sim, foi muito duro. O contrato era de 6 meses, mas passado umas semanas pensei que não ia aguentar, as saudades de casa eram tantas... Ainda bem que aguentei, porque aprendi e muito e conheci pessoas e horizontes fantásticos. Mas sempre com a terrinha no coração. Mas como diz Neruda, "morre lentamente quem não viaja" e só parei quando a minha Laura começou a primária. Difícil mesmo foi começar... :)

memyselfandi disse...

o teu comentário daria para um novo post, Zaira =)

muito obrigada pela visita...
<3