Enquanto miúda, fui crescendo a ouvir os meus pais dizerem “hoje em dia podemos dar-te as oportunidades, no nosso tempo não as havia, por isso, aproveita-as.” Com mais ou menos palavras, este discurso ia-se repetindo periodicamente e sempre que a ocasião fosse propícia a tal e pensava eu porque razão tinham os meus pais que dar tanta importância a esta coisa das “oportunidades”. Hoje, sou mãe e como compreendo o valor de poder dar ao meu filho as “oportunidades” (ou um possível caminho para elas), e como percebo a importância que isso tem! Já dei por mim a pensar que, se calhar, a importância é tanta, que estou a cair no exagero. Já no ano lectivo anterior me ocorreu que talvez o meu filho tivesse um horário demasiado pesado para a idade dele. Eram tantas as actividades (e responsabilidades) dentro e fora da escola! Decidi, na altura que, este ano, iria reconsiderar e talvez fosse possível que a criança não ficasse com uma carga horária tão densa. Ora bem, isso não aconteceu. Há dias em que tiro o meu filho do quentinho às sete e meia da manhã, porque eu entro às oito e meia (e que culpa tem ele disso, certo?), e doi-me um pouco o coração. Começa o dia na escola mais tarde, mas até lá, já preparou leituras e ditados em casa da ama que o levará, depois, à escola. As aulas terminam a meio da tarde, mas depois tem ainda uma de Apoio ao Estudo. São entretanto horas de sair do recinto escolar e ir em direcção à próxima instituição onde as actividades musicais o aguardam e onde permanecerá por mais duas horas (a primeira será prática e a segunda teórica. Tenho as minhas duvidas quando à eficácia da segunda hora, teoria no final do dia...). Decorridas, então, as ditas, prepara-se, a seguir, para a actividade desportiva (que não pode deixar de ter, o exercício físico é importante), onde permanece, por vezes, mais duas horas. Isto, aos dias de semana, pois ao fim de semana vão alternando torneios e audições entre outros.
Há dias, em que o meu filho está a jantar e os olhitos querem fechar-se num soninho santo. Mas, há dias também, em que ainda existem trabalhos de casa para fazer depois do jantar...
O horário semanal do meu filho de sete anos, é mais preenchido que o de muitos de nós quando eramos adolescentes (e já eramos adolescentes!) e os tempos eram outros.
Às vezes converso e aconselho-me com outras mães e oiço-as dizerem: “faz-lhes bem! as crianças devem ter o tempo ocupado”.
Quantas vezes, quando já dorme, olho para o meu anjito e penso, “descansa, meu amor. mereces tanto!” E então o coração e a razão conversam dentro de mim e tentam chegar a um consenso, o que nem sempre conseguem, mas ambos acabam por se resignar justificando-se com o facto de que o homenzinho de sete anos terá, assim, a possibilidade de um futuro risonho e cheio de oportunidades.
E assim vamos levando os dias. A correr. A questionar. A persistir. Tudo em nome das “oportunidades”.
Oxalá eu esteja a fazer a coisa certa e elas nunca lhe faltem!