Moro longe da minha terra natal. Morar-se longe da terra natal nem sempre é um processo fácil. Dependendo de cada um de nós e do factor ou factores que contribuíram para tal, muito provavelmente, o afastamento terá trazido momentos de grande tristeza e dor, principalmente naqueles primeiros tempos que se seguem à mudança. Com o tempo, acabamos por nos adaptar e mais tarde, muitos de nós, já nem conseguem conceber a ideia de voltar a viver na terra que nos viu nascer.
Sair do ninho, não sendo fácil, é um período de enorme crescimento e enriquecimento pessoal. Se for como no meu caso, o ir para a universidade, seremos de alguma forma obrigados a aprender a dividir o nosso espaço e as nossas coisas com estranhos. Estranhos estes que passam a fazer parte do nosso íntimo e tornam-se o mais próximo que temos de família. Uma nova família.
Com o tempo, descobrimos que precisamos uns dos outros. Estamos longe de casa. Longe de tudo o que é “nós” e precisamos de nos apoiar uns nos outros. Tornamo-nos dependentes afectivamente destas novas pessoas, deste novo lar, desta nova noção de família. As partilhas nesta família são diferentes, mas muito interessantes, fascinantes até, em alguns aspectos. Moldamo-nos. Crescemos. Aprendemos a viver uma nova ideia de vida.
Houve alturas em que pensei muitas vezes que as pessoas que não têm que sair do meio em que cresceram e ao qual pertencem, por todas as razões, eram umas sortudas. Nunca passaram pela dor da separação. Nunca sentiram o coração apertadito nem lhes brotou do olhar uma lágrima de saudade. Neste momento, não penso da mesma forma. A dor da separação não a terão sentido, mas a alegria de conhecer novos universos humanos, de contar e ouvir experiências, de saberem que existe outra forma de mundo para além daquela que os moldou, será algo que nunca conhecerão. Nunca experimentaram outro molde.
Tudo nesta vida é relativo, as coisas só têm a importância que lhes damos, é um facto. Mas também é um facto que, com esse tipo de raciocínio, poderíamos optar por não dar importância a nada e que espécie de vida teríamos nas mãos, então?
Seja como for, o regresso à terra é sempre uma grande alegria. O tempo para colocarmos as conversas em dia com os amigos de infância e família nunca chega, são já muitos meses, muitos anos de distância. Nunca a troca de mimos será suficiente para colmatar tanta ausência. Enquanto estamos, os dias enchem-nos e esvaziam-nos, mas completam-nos tanto!
Quanto às partidas, bem, cada uma delas, todas, vão acrescentando um bocadinho escuro ao coração, que se junta aos outros que já lá estão, tornando o pedacito escuro cada vez maior. O pedacito escuro só aparece nas partidas. A cada regresso, o coração esquece-se dele, mas ele volta a lembrá-lo sempre que está lá.