terça-feira, 14 de setembro de 2010

The sound of crying...

Acabei de presenciar um episódio no supermercado absolutamente violento. Impressionada até agora. Revoltada. Decepcionada com a natureza humana sempre que sou "obrigada", "forçada" a lembrar-me que existem comportamentos deploráveis que jamais entenderei.
Formou-se um pânico geral porque uma criança tinha desaparecido de perto do avô e não havia rasto dela. Entre funcionários e clientes, tudo olhava em volta, corria, perguntava, espreitava. Fiquei imensamente apreensiva e já rezava para que a criança aparecesse, é sempre uma aflição tão grande quando estas coisas acontecem! Ouviu-se a voz de uma funcionária dizer que ouvia o menino dentro da casa de banho e que este chorava e chamava pelo avô. Alívio! Procurou-se a chave que abria a porta. Abriu-se a porta e o menino (que devia ter por volta dos três anos) saiu, completamente em pânico, e procurou os braços do avô. E o avô? Bem, o avô pegou-lhe na mão, arrastou-o pelo chão e, uns metros à frente, desatou a dar-lhe açoites enquanto lhe gritava "é para aprenderes a não sair de perto de mim", mas tantos, a ponto da criança fazer chichi ali mesmo... Fiquei estarrecida. Tudo olhava. Uma funcionária ainda arriscou "o menino está assustado, não lhe bata!" Levou com a resposta que imaginam. Eu observava um pouco afastada o sucedido e ao meu lado ouvi uma senhora (?) que comentou "que mal é que faz dar uns açoites ao miúdo. Se calhar até merecia mais." Olhei para ela. Não me contive. Perguntei-lhe que bem é que os açoites fizeram ao menino. Perguntou-me se tinha filhos. Que sim. Se nunca me tinha acontecido. Que não. Que tinha sorte. Que a sorte às vezes também precisa de uma ajudinha, mas, caso me acontecesse algo semelhante, seria a primeira a acalmar o meu filho e a assegurar-lhe que não haveria lugar no mundo que o fechasse de mim. Que era conversa. Perguntei-lhe se ela tinha filhos. Que sim.
Estando eu tão longe como qualquer um(a) de nós de ser a/o mãe/pai perfeita(o) e, tendo eu consciência de que tal não existe, ainda assim, fixei-a infinitamente e lamentei, em pensamento, tal facto...

"And if you're listening out there
You could consider this a prayer..."

7 comentários:

João Pedro Silva disse...

À pouco tempo tb presenciei uma cena semelhante No Continente de Portimão mas com desfecho "ligeiramente" diferente...A mãe quando reencontrou o filhote abraçou-o sem o largar durante alguns minutos e a avó deu-lhe um ligeiro raspanete. Quanto à senhora que falou ctg deve ser do tipo de pessoas que não dão a vez a uma grávida pq acham que gravidez não é deficiência nem doença...eu sei que isto não acontece só por aqui...mas ás vezes sinto-me farto deste povo e deste país...

memyselfandi disse...

João, a mãe que tu viste era uma Mãe de certeza! Sim. Às vezes também penso isso. Uma coisa te garanto, doeu muito e muitas pessoas ficaram com o olhito raso de água por aquele menino...

Celeste disse...

ora e alguém deu acoites ao avô? como é que a criança foi parar à casa de banho sozinha? com 3 anos? quem distraiu o avozito? alguma revista? que é feito do andar com os netinhos pela mão? tretas! coitada da criança e pobre avô que já vai tarde pra aprender! gosto mt da musiquita!

memyselfandi disse...

Celeste, foi exactamente o que eu pensei. Se calhar o avô precisava mais deles... Foi uma cena muito cruel. A musica tem tudo a ver e é muito bonita (digo eu, vá). Jt

NUXA disse...

Que história! Dói mesmo muito ver coisas destas... e depois, dá uma sensação de impotência tão grande. Estou contigo na revolta.

O Gaijo disse...

Há uns anos atrás, trabalhava eu como part-time no extinto Feira Nova ( Part time com as aulas ), e levantei-me da caixa onde estava e ofereci um estalo a uma Mãe, por ela ter pregado um bufardo ( sim é esse o nome, pois foi muito violento ), a um miúdo pequenino. Aquilo fez-me tal mal que não me consegui controlar e ofereci-lhe porrada á frente de toda a Loja...

http://pensamentosdeumgaijo.blogspot.com/

memyselfandi disse...

NUXA, é. Difícil não sentir revolta.


O GAIJO com "i", nunca teria coragem para o fazer, mas vontade já tive. Muitas vezes... =)