acordou. era dia outra vez. o ritual costumeiro e a hora de escolher o que vestir. tem dias em que 'ter' de escolher o que vestir é um verdadeiro frete. aos dias de semana fica decidido e pronto na noite anterior (ganha tempo de manhã), mas ao fim de semana não há tempo para ganhar. então, olha mais e mais uma vez, e lá se decide por uma qualquer peça, enquanto pensa que podia perfeitamente ter no armário uma coleção de uniformes (iguaizinhos, todos) para que a questão do 'escolher' ficasse resolvida. tinha visto isto uma vez num filme qualquer, anos atrás, e lembrou-se. pensou também que, na ausência de uniformes, se podia muito bem vestir a mesma roupa do dia anterior, porque não? depois refletiu e fez questão de dizer a si própria em voz alta que, se por alguma razão fosse obrigada a vestir a roupa usada no dia anterior, provavelmente, acharia um frete ainda maior. acabou de ter este pensamento e, ali de pé no meio do quarto, com alguma roupa na mão, a olhar para o roupeiro, lembrou-se que, afinal, já lhe tinha acontecido.
isto de ter de vestir a mesma roupa. a do dia anterior. por não ter outra. naquele momento. lá.
tinha sido num acordar diferente.
de repente, só se lembrou do acordar diferente. e do facto de ter vestido a mesma roupa por causa desse acordar. e de isso não lhe ter merecido qualquer importância.